quinta-feira, 19 de maio de 2011

A divisão do Pará, o preconceito, a satanização e a brasilidade de todos nós.

(Belenense diz o que pensa)

A verdade – a dolorosa verdade – é que nós, de Belém, não conhecemos o Pará.
Achamos grande coisa quando vamos “veranear” em Algodoal, Ajuruteua ou Salinas.
E nem nos damos conta de que as estradas que nos levam a esses lugares – ou a até perto deles – mais parecem uma miragem em relação a uma Transamazônica, por exemplo.
Se as pessoas de Belém conhecessem a dramática realidade do Sul e Sudeste do Pará, da Transamazônica e do Baixo-Amazonas, talvez não dissessem tanta bobagem quando o assunto é a divisão territorial.
Em primeiro lugar, não é verdadeiro o argumento de que apenas os políticos dessas regiões é que lutam pela divisão.
E se as pessoas parassem um pouquinho para pensar naquilo que estão a dizer, perceberiam logo que isso não tem pé nem cabeça.
Afinal, o que levaria esses políticos a defender uma proposta tão grave, se ela não tivesse base popular?
Por acaso vocês conhecem algum candidato ao Governo do Pará, que, em plena eleição, tenha dito com todas as letras que é contra a separação dessas regiões - e tenha conseguido se eleger?
Então, o que é que faz com que os políticos favoráveis à divisão tenham a coragem de expressar isso durante um processo eleitoral, e os políticos contrários não tenham a coragem de fazê-lo?
É por que temem perder simplesmente o voto do Lira Maia, do Giovanni Queiroz ou do Parsifal Pontes?
Ou é porque sabem que, se forem contrários à divisão, perderão maciçamente os votos dessas regiões?
Então, é preciso parar de tentar tapar o sol com a peneira: o desejo de separação existe, sim, e maciçamente, entre os cidadãos dessas regiões.
E por que é assim? Por tudo aquilo que expressei no artigo anterior (aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2011/05/o-plebiscito-o-paraensismo-e-vida.html).
Quer dizer: agredir o Giovanni Queiroz, o Lira Maia ou o Parsifal Pontes não vai fazer “desaparecer magicamente” esse anseio popular, que tem raízes muito profundas, inclusive, culturais.
Em segundo lugar, essa história de dizer que essas regiões não podem se separar, ou que não irão progredir a partir da separação, porque serão governadas por esses políticos, revela um preconceito brutal em relação aos habitantes do Sul e Sudeste do Pará, da Transamazônica e do Baixo-Amazonas.
Quem lê o que algumas pessoas escrevem acerca da qualidade dos políticos do interior do Pará fica com a impressão de que nós, de Belém, elegemos a cada pleito, para prefeito da nossa cidade, verdadeiros clones do Winston Churchill!
Na caixinha de comentários da minha postagem anterior, houve até quem “argumentasse” que, dos 41 deputados da nossa Assembléia Legislativa, apenas um, Edmilson Rodrigues, veio da capital – como a dizer que toda a “malignidade” deste estado provém do interior.
E quem pensa assim, vai ter de concordar comigo no seguinte: se verdadeira tal premissa, é necessário afirmar que os vereadores da Câmara de Belém são infinitamente melhores do que os vereadores de todo o Pará e até mesmo que os deputados da nossa Assembléia Legislativa.
Mas a realidade é essa mesma? Os vereadores de Belém são, rrrealmente, melhores que os demais vereadores e até mesmo que os nossos deputados?
Não, maninhos!... Depois que nós, os tão “politizados” eleitores de Belém, elegemos, e até bisamos, o Duciomar Costa, não podemos criticar nem mesmo os cidadãos de Anajás.
Perdemos a moral. E o pessoal de Santarém, Oriximiná, Marabá ou Parauapebas vai de ter de errar muito, e pelos próximos 50 anos, para conseguir nos superar nesse ranking.
Não ajuda em nada a essa discussão ficar satanizando o Giovanni Queiroz, o Lira Maia, o Parsifal Pontes, ou até mesmo a mim, simplesmente porque estamos a defender, democraticamente, o que nos parece melhor para as populações dessas regiões.
Esse tipo de “argumento” revela, em verdade, a falta de argumentos.
É apenas uma falácia, o “crème de la crème” entre as falácias: o argumentum ad hominem, que consiste em atacar quem argumenta, em vez do argumento em si.
E a procura de um “satanás” para esse processo é tão impressionante que já se tenta até atribuir o movimento separatista aos interesses do banqueiro Daniel Dantas.
E a impressão que fica é que nós, de Belém - que nunca dissemos um ai diante da Lei Kandir ou da ação da Vale neste gigante que ainda é o Pará - é que somos os únicos que poderemos obstar os interesses daquele banqueiro.
Isso é preconceito em relação à população do interior – do Baixo-Amazonas, da Transamazônica, do Sul e Sudeste do Pará.
É partir do pressuposto de que nós, da capital, somos superiores a eles em termos de visão e de ação política.
E logo nós, como já dito, que até bisamos o Duciomar.
E logo nós, como bem lembrou um anônimo, que temos esgotos a céu aberto e ruas esburacadas e cheias de mato, igualzinho a qualquer cidade do interior.
Talvez as pessoas não tenham ainda percebido o quanto será nocivo para o Pará, qualquer que seja o resultado desse Plebiscito, se continuarmos a inferiorizar, ou até a satanizar as pessoas dessas regiões, e as lideranças políticas que nelas atuam.
Mesmo que os defensores da integridade territorial vençam esse Plebiscito, teremos um Pará mais dividido do que nunca.
E quem forma opinião tem de estar atento para o perigo que isso representa.
Também não é correto, para mim, o argumento de que não podemos ser favoráveis à divisão porque sobrará ao Pará apenas a parte pobre.
Tal argumentação pressupõe que a nós, paraenses, interessa apenas manter aquelas regiões como espécie de armazém ou de “senzalão”.
E logo nós, paraenses, vítimas, há séculos, de um duplo processo de colonização.
Não acredito que a sofrida e generosa população paraense pense dessa forma.
E tenho para mim que se os defensores da divisão conseguirem mostrar a aflição em que vivem os Severinos de lá, os Severinos daqui apoiarão, sim, a criação desses novos estados.
Mesmo separados, temos de nos respeitar e de buscar aquilo que nos une: a luta pela distribuição da riqueza, pela melhoria das condições de vida do nosso povo, pelo respeito da Nação aos que vivemos na Amazônia.
Antes de mais nada, somos irmãos brasileiros. É o amor a este País que pulsa no coração de cada um de nós.
E é nessa condição que temos de travar esse debate tão importante.
Até porque, ao fim e ao cabo, estamos todos – de Belém, de Santarém, de Marabá, de Altamira, de Anajás – no mesmíssimo barco, dadas as condições de sobrevivência que todos enfrentamos nesta imensidão.
FUUUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!  

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