segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Crise moral, risco mundial, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Obama diz que o governo sírio ultrapassou a “linha vermelha” das convenções internacionais sobre guerras ao usar armas químicas e Assad, que nega o uso, apoiado por russos e chineses, diz que não confirma nem nega que seu governo tenha essas armas. Acreditar em quem, na Síria, se todas as partes envolvidas são suspeitas? A indiferença não é uma solução, pois foi na indiferença européia que cresceu o nazismo, aliás o primeiro regime genocida com uso de armas químicas. E agora, ONU?
A Liga Árabe também entende que o genocida é Assad e não a oposição síria. Pois essa mesma Liga está no lado oposto aos americanos no caso dos palestinos – e aí entramos numa questão mais profunda: porque outros crimes contra a humanidade também não foram considerados como ultrapassando a “linha vermelha”? Os Estados Unidos nunca consideraram prioridade a defesa da vida dos civis palestinos, pois tem outra visão quando seus aliados regionais estão envolvidos – exatamente a “hipocrisia” da qual os americanos, agora, estão acusando russos e chineses que defendem seu aliado sírio. Quer dizer, não é porque a Liga Árabe condena o governo sírio que os americanos acredita nos árabes: no caso dos palestinos, a Liga Árabe protesta pelo massacre dos palestinos mas os Estados Unidos ignora todos os protestos.
O exército egípcio passando com tanques sobre as pessoas que protestavam pacificamente na praça ultrapassou a “linha vermelha”. O desperdício mundial de alimentos ultrapassou a linha vermelha. A AIDS na África ultrapassou a linha vermelha. A indústria de armamentos ultrapassou a linha vermelha. O desequilíbrio climático ultrapassou a “linha vermelha” e compromete o futuro humano na Terra.
O Japão ultrapassou a “linha vermelha” em Fukushima, despejando lixo atômico no mar, contaminando os oceanos e colocando em risco a vida no planeta, com possibilidades catastróficas de mutações genéticas, proliferação de câncer e incontáveis formas de contaminação radioativa de consequências imprevisíveis. “Passou batido” em agosto uma notícia cuja fonte é própria Tokyo Eletric Power Co, de que foi detectada “uma radiação de 1,8 milisieverts por hora, num tanque da usina” – capaz de matar um ser humano em quatro horas. Sendo detectada na água da usina uma radioatividade dezoito vezes maior que a anteriormente medida e sabendo-se que esse lixo atômico está sendo despejado no mar, trata-se de uma calamidade mundial, capaz de atingir a todos nós. Agora o governo japonês gastará 40 bilhões de yenes (400 milhões de dólares) no uso da técnica de terra congelada, com um muro de concreto de grande espessura no entorno do reator e na parte interior que ficará em contato com a água radioativa adiciona-se areia para ser congelada. Porque só agora?
Ultrapassou a linha vermelha a negligência mundial e nacional também, quanto aos riscos da energia nuclear. O Dr. Millos Stringuini observa que “todos sabemos que as usinas nucleares não são isentas de risco, Fukushima é a prova, se no Japão e na Rússia usinas explodiram imagine o risco no Brasil…O Sistema energético brasileiro, sabidamente, carece de planejamento de médio e longo prazo. Além disso, é suscetível a acidentes de pequena monta com grandes repercussões. Em agosto o Nordeste ficou sem energia, pois linhas de transmissão foram interrompidas por queimadas de vegetação.. E sabemos que desmontar uma usina nuclear é, em média, 4 vezes mais caro que construir. Por que, então, o governo federal quer implantar 06 ou 07 usinas nucleares no Brasil, sendo uma, provavelmente na Costa Doce do RS?”.
As “linhas vermelhas” que estão sendo ultrapassadas atingem não só a moral, como a sobrevivência da espécie humana. Não se trata de estabelecer uma “linha vermelha” só para a Síria. Os americanos não tem moral para serem “xerifes do mundo”, falta uma ONU de verdade: “Linha vermelha” para defender os civis palestinos, para socorrer a fome e a AIDS na África, linha vermelha para Fukushima, já!
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

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