quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

   Hipocrisia à parisiense


Na primeira fila da marcha pela “Liberdade Expressão”, convocada pelo primeiro-ministro francês, governantes com as mãos manchadas por censura, prisões arbitrárias e agressão a comunicadores
Por Vinicius Gomes, na Revista Fórum
Na esteira do assassinato de 12 pessoas na última quarta-feira (7) em Paris, entre elas dois policiais franceses e dez funcionários da publicação semanal satírica Charlie Hebdo, as ruas de diversas cidades francesas foram tomadas por quase 4 milhões de pessoas nesse domingo (11) que marcharam em solidariedade às vítimas e suas famílias e contra o terrorismo e pela defesa da liberdade de expressão. Em Paris, a manifestação contou com a presença de dezenas de líderes mundiais andando de braços cruzados em nome desses valores. Visualize aqui um rápido “quem-é-quem” de alguns dos que participaram.
A hipocrisia pela demonstração de solidariedade às vítimas inocentes da Charlie Hebdopoderia, por exemplo,ser apontada logo de cara com a presença do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que há menos de seis meses causou a morte de mais de duas mil pessoas em Gaza, cerca de 500 delas sendo crianças; mas como a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras escreveu, eles ficaram “estarrecidos pela presença de líderes de países onde jornalistas e blogueiros são sistematicamente perseguidos” – citando alguns como o primeiro-ministro da Turquia, os ministros de relações exteriores do Egito, da Rússia, da Argélia e dos Emirados Árabes, além do presidente do Gabão.
Porém, um estudante da London School of Economics foi mais além: Daniel Wickhampostou uma série de tuítes dando nome aos bois daqueles que andavam de braços cruzados em nome da liberdade de expressão, quando em seus próprios países eles não parecem tão preocupados em defendê-la – fato esse que não pode ser classificado como nada menos do que um show de hipocrisia. Sendo que a mais flagrante foi a condenação de Raif Badawi, um blogueiro saudita, por “insultar o islã“: 10 anos de prisão e 1.000 chibatadas em público, ao longo de 20 semanas – as primeiras 50 foram dadas na sexta-feira (9), dois dias antes de o embaixador da Arábia Saudita marchar com outros defensores da liberdade de expressão.
Confira abaixo a lista de Wickham, apontando 21 líderes mundiais e fervorosos defensores da liberdade de imprensa e expressão:
1) Rei Abdullah, da Jordânia, que no ano passado sentenciou um jornalista palestino a 15 anos na prisão com trabalhos forçados
2) Primeiro-Ministro Davutoglu, da Turquia, que prende mais jornalistas do que qualquer outro país no mundo
3) Primeiro-Ministro Netanyahu, de Israel, cujas forças [armadas] mataram 7 jornalistas em Gaza no ano passado (ficando atrás apenas da Síria)
4) Ministro das Relações Exteriores Shoukry, do Egito, que além de prender jornalistas da Al Jazeera, deteve também o jornalista Shawkan por cerca de 500 dias
5) Ministro das Relações Exteriores Lavrov, da Rússia, que no ano passado prendeu um jornalista por “insultar um funcionário do governo”
6) Ministro das Relações Exteriores Lamamra, da Argélia, que prendeu o jornalista Abdessami Abdelhai por 15 meses sem julgamento
7) Ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes, que em 2013, manteve um jornalista incomunicável durante um mês
8) Primeiro-Ministro Jomaa, da Tunísia, que recentemente prendeu o blogueiro Yassine Ayan por 3 anos, por ter “difamado o exército”
9) Os primeiro-ministros da Georgia e Bulgária, ambos países que têm um histórico deatacar e bater em jornalistas
12) Secretário-Geral da Otan, que ainda precisa ser responsabilizada pelo bombardeio e assassinato deliberado de 16 jornalistas sérvios em 1999
14)  Ministro das Relações Exteriores de Bahrein, segundo maior país que prende jornalistas no mundo (e também os torturam)
15) Xeique Mohamed Ben Hamad Ben Khalifa Al Thani, do Qatar, que condenou um homem por 15 anos por escrever o “Poema do Jasmim” - que criticava os governos do Golfo Pérsico no pós-Primavera Árabe
16) Presidente Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, que prendeu diversos jornalistas em 2013 por “insultá-lo” no Facebook
17)  Primeiro-Ministro Cerar, da Eslovênia, que condenou um blogueiro a seis meses de prisão por “difamação”, em 2013
18) Primeiro-Ministro Enda Kenny, da Irlanda, onde “blasfêmia” é considerado um crime


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