sábado, 11 de fevereiro de 2017

Moraes indicado ao STF: e a juventude com isso?

Tatiane Lima UNICAMP: sábado 11 de fevereiro| Edição do dia

Alexandre de Moraes, atual Ministro da Justiça e militante tucano, foi indicado por Temer para ser Ministro do Supremo Tribunal Federal, substituindo o falecido Teori Zavascki. Essa indicação está gerando muita polêmica nacionalmente e cabe a nós jovens também refletirmos sobre o seu significado.


Com a aproximação da sabatina de Alexandre de Moraes na Comissão de Constituição e Justiça, prevista para semana que vem, a sua indicação por Temer está sendo amplamente debatida nos bastidores do Congresso Nacional e STF, bem como nos editoriais dos grandes jornais tradicionais do país. Políticos e juristas divergem, com ressalvas à escolha de um partidário, do PSDB, ao invés de outro nome que fosse “menos político” e “mais técnico”. Já a Folha de São Paulo e o Estadão tratam de justificar a indicação de Temer, ainda que também timidamente apontem os “riscos devidos ao conhecido temperamento explosivo e exibicionista” de Moraes. A verdade é que as preocupações com as movimentações em torno da figura de Moraes não se restringem aos poderosos políticos ou a grande mídia, há também muitos jovens que nas redes sociais adentram a esse debate, por se tratar de mais uma peça no quebra cabeça da crise política nacional e também pelo histórico recente de Alexandre de Moraes contra nossas manifestações políticas e demandas sociais.
Os jovens paulistas foram os primeiros a experimentar a mão repressiva de Moraes
Hoje as medidas repressivas de Alexandre de Moraes são famosas em todo o Brasil, principalmente pelo seu advento como um dos braços confiáveis de Temer, que lhe conferiu o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública. Mas foi no estado de São Paulo que Moraes fez seu laboratório inicial de repressão e não por um acaso, já que foi também na capital paulista o estopim que transformou as jornadas de junho massivas em todo o país em 2013.
O tucano foi secretário de segurança do governo Alckmin, com um encaixe perfeito no projeto de linha dura que agride professor grevista, reprime com violência brutal os que se manifestam em defesa de direitos e transforma estudantes e jovens em presos políticos. Mas a juventude secundarista do estado mostrou que junho não estava morto quando organizou mais de 200 ocupações de escolas, contra os planos do PSDB de “reorganização” escolar em 2015 e derrotou esse governo que se julgava infalível. A resposta de Alckmin e Moraes após essa derrota foi assumir uma repressão ainda mais dura à segunda onda de ocupações, no ano de 2016, que tinha seu centro na denúncia da “Máfia da Merenda” do governo tucano e na precariedade da escola pública. Práticas absurdas de repressão foram adotadas, com agressões a crianças e adolescentes, prisões e reintegrações dos prédios de ensino sem mandato, que viraram regra e se tornaram ferramentas dos governos mais tarde contra as mais de mil ocupações de escolas e universidades que explodiram fora de São Paulo.
Esses fatos mostram então duas coisas: Que Moraes foi o mais fiel braço de Alckmin contra o movimentos dos estudantes e jovens paulistas e que seu “temperamento explosivo” ou, como melhor entendemos, de cachorro louco, esteve não só a serviço da “ordem” paulista, como foi aproveitada em prol da “ordem” nacional, ao lado de Temer para conter a onda nacional de ocupações da juventude contra um dos principais ataques dos golpistas, a PEC 55 que impôs um teto bem baixo de gastos com os serviços públicos. Os políticos, juízes e grandes empresários agradecem esse lado firme de Moraes, sem dúvidas.
Entre os responsáveis pela sangrenta crise carcerária, Moraes só pode piorá-la
Um alto saldo de pessoas mortas nas rebeliões em prisões mais uma vez mostram a brutalidade da crise no sistema carcerário brasileiro, dessa vez com mais de cem assassinatos no norte do país em janeiro. E as imagens não escondem quem são as principais vítimas no centro desse turbilhão: jovens negros, marginalizados e criminalizados pela Justiça e a polícia do Estado. A superlotação, fruto do encarceramento em massa sem julgamento, as torturas, os extermínios e toda a violência brutal dão o tom nesses ambientes completamente degradantes que são as prisões em nosso país.
Em entrevista ao Esquerda Diário, Camila Marcondes Massaro, socióloga, professora da PUC de Campinas e membra de um grupo de pesquisa e estudos relacionados ao sistema prisional, defende que o principal problema da crise carcerária é justamente o excesso de prisões e os chamados “presos provisórios”, aqueles que são encarcerados sem serem julgados e nem considerados condenados em todas as instâncias legais. Dados levantados em pesquisas mostram que o “défict” prisional, tão aclamado por muitos políticos como justificativa para a superlotação, é de cerca de 250 mil vagas e que, no entanto, a quantidade de presos sem julgamento é praticamente a mesma, hoje em cerca de 249 mil. Contrariando esses fatos, alguns reacionários, inclusive pretensamente com “cara nova”, como Kim Kataguiri do MBL, defendem que o problema é garantir mais prisões. Kataguiri ainda vai além, em sua concepção liberal, e defende que as gestões destas prisões devem estar nas mãos de empresas terceirizadas pelo Estado. Ou seja, que não só deve-se seguir a chamada “guerra às drogas”, mas que quem deve administrá-la, como um negócio lucrativo, são empresas. Talvez Kim queira seguir o exemplo dos EUA, que possuiu um enorme mercado de presídios privados. Então devemos lembra-lo que os EUA é o primeiro país no ranking mundial em quantidade de população carcerária e, sem dúvidas, também o mais racista nessa “área”, já que com uma população negra de 15% no país, tem nos presídios mais de 40% de negros atrás das grades.
Enquanto a maioria dos defensores da criminalização da juventude negra, da pobreza e dos movimentos sociais debate que é preciso fazer novos presídios ou “investir” em gestões privadas que sejam “mais qualificadas”, Moraes é ainda mais reacionário e ficou conhecido por um projeto de lei que intencionava tirar fundos das penitenciárias para investir em uma “tropa de elite nacional de polícia”. Esse projeto, no entanto, acabou sendo barrado pelo STF à época, mas de longe não se deu para que qualquer outra iniciativa em favor da resolução da crise carcerária fosse dada. Ou seja, enquanto alguns políticos e juízes querem esconder embaixo do tapete que o Brasil é o 4º país no mesmo ranking de população carcerária, Moraes está disposto a tornar ainda mais sangrenta e aberta essa crise, com um plano de militarizar ainda mais o país. Talvez isso explique um pouco do tragicômico caso dos imigrantes sequestrados acusados de serem terroristas. Mas devemos lembrar que, mais uma vez, em momentos de levantes massivos da população, em especial dos jovens e trabalhadores na luta de classes, Moraes não fica sozinho nessa ânsia de militarização e repressão. O caso do Rio de Janeiro com a violenta repressão na ALERJ aos servidores em greve contra a privatização da CEDAE nessa quinta, junto a estudantes que resistem à ameaça de fechamento da UERJ, mostra isso. Ler mais em: www.esquerdadiario.com.br/
  


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